«Sobre o lado esquerdo» (I)

2005-03-17


Lourdes de Castro



A ILHA
para a Ângela
A ilha era deserta e o mar com medo
de tanta solidão já te sonhava:
ia em vento chamar-te para longe
e longamente em espuma te esperava.

À cinza dos rochedos atirava
na grande madrugada adormecida,
já saudosos de ti, os braços de água,
sem ter acontecido a tua vida.

Sim, meu amor, antes de Zarco vir
provar o sumo e o travo à solidão,
no litoral de pedra pressentida
o mar imaginava esta canção.

E as lúcidas gaivotas desse tempo
talhavam como um voo o teu amor:
o início de lava e sal que deixa
(talvez) neste poema algum esplendor(1).
Carlos de Oliveira


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(1)
A ilha hoje é um paraíso inglês
de orquídeas e renques orvalhados:
mister X e a cana do açúcar
mister Y, bancos, luz, bordados.

Ó Cesário, pudesse eu voltar
e deste cais onde não há varinas
ver os garotos na água implorar
(sir, one penny) o oiro das neblinas.



 
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