Oh Que Ricos Subsídios! (V)
2005-01-27
A CTC desanca nas ridículas actas do IA do MC
Candidatura 020 (ou «Festival de Teatro de Almada»)
Brrrrr, que frio! Mas cá estamos nós de volta para vos aquecer a alma com mais uma acta da Ana Marin (ámen), do IA. Sim, porque IA significa «Instituto da Ana» e a Ana é uma mulher muito bem lançada: primeiro, foi lançada pelo Mário Barradas na Secretaria de Estado da Cultura (na época em que isto era tudo do PC) e, muitos anos depois, veio o Carrilho e lançou-a no estrelato!
Um dia destes a gente explica isto melhor. Hoje vamos voltar à margem Sul, depois do êxito que foi a nossa passagem pelo Vale de Barris. Em Almada está a Companhia de Almada «solidamente implantada», sob a direcção do Joaquim Benite, como a acta explica aos ignorantes. O Joaquim recebeu do IA um benite subsídio: 550.000€, que é como quem diz 110 mil pacotes em moeda arcaica.
E porquê tanta massa? Porque a Companhia de Almada não é só uma companhia, muito menos um batalhão, é uma tropa inteira! Nada menos de 20 pessoas mais 4 actores recrutados especialmente para 2005 «por razões de repertório», anuncia a acta. A tropa é do mais moderno que há e está organizada ao estilo do exército americano. Na direcção artística estão 2 marechais, o Benite, que é o Colin Powell, e um anónimo à paisana no difícil papel de Donald Rumsfeld. Na «gestão» trabalham 2 generais de 5 estrelas a tempo inteiro; a infantaria é composta por 5 actores permanentes, auxiliados pela artilharia de 4 coronéis do «sector técnico»; mas onde se vê a sofisticação do grande exército almadense é no grupo de operações especiais destinado a missões de alto risco. Anotem: no «sector de público» alistaram-se 2 majores «que analisam a relação de cada produção com um público alvo» (bombardeamento cirúrgico); o departamento de «promoção» conta com 2 tenentes especializados «para contacto com os meios de comunicação social» (CNN, New York Times, Al-Jazeera, etc.); na «distribuição» operam 1 capitão e 1 sargento vocacionados em exclusivo «para pesquisa de mercado» (guerra económica); e, por fim, 1 único furriel senta-se na secretaria e assegura o êxito das operações de transmissão, reabastecimento e logística.
Instruído pelo Ministério da Defesa (o Paulo Portas em pessoa!), o IA reconhece as dificuldades destas macro-organizações e diz que tudo isto «revela um modelo de gestão algo oneroso, embora eficiente». Cá está: a eficiência é o grande critério das máquinas bem oleadas que são os exércitos do século XXI! Paga-se um balúrdio aos magalas, mas anda tudo ali em sentido que é uma beleza! Um, dois, esquerdo, direito, marche!
Agora não digam que 110 mil contos é muito. Não é. O cacau é pouco, porque o marechal Benite tem a seu cargo a «organização do Festival Internacional de Teatro de Almada» que, diz a Ana, «vem crescendo em qualidade» e também em quantidade, a ponto de já ter tentáculos na margem Norte, invadindo o CCB, a Culturgest, o Trindade, o Taborda e o S. Luiz! (Só falta o D. Maria do Bairro Alto, que não tem detecção de incêndios nem acesso para deficientes, uma vergonha.) O marechal Benite pediu ao IA, só para o Festival, a módica quantia de 425.000€, que era a diferença entre «despesas previstas (866.000€)» e «receitas igualmente previstas (441.000€)». O IA do MC, na sua bondade, disse que sim: 425.000€ para o Festival e ainda levam uma gorjeta de 125.000€ para o resto. Satisfeitos?
Ora, o marechal Benite tem uma programação perfeita para fazer com 21 mil contos: Shakespeare, Bulgakov, Pushkin, Molière, Miguel Real, Jaime Rocha, tudo coisas simples. Uma das peças anunciadas é o Power do Nick Dear, sobre o Luís XIV, e faz-se na maior com 500€, mais coisa menos coisa. A Companhia de Almada é conhecida pelas suas encenações vanguardistas e a Ana de Áustria descalça e com uma túnica preta fica a matar! O Luís XIV com uma lanterna na tola, a fingir que é o Rei-Sol, e vai disto que é feira! A Irmã Lúcia vai delirar!
O IA também informa que o marechal Benite vai fazer pela primeira vez em Portugal qualquer coisa de «Carol Frechètte», o que é de facto uma revelação: Carol Frechètte é um famoso acupuncturista e trabalha numa célebre academia de medicina chinesa! O IA já patrocina terapias orientais na margem Sul?! Ou será que o IA queria dizer Carole Fréchette, a conhecida dramaturga canadiana autora das Quatro Mortes de Maria? Tudo é possível neste mundo esquisito da Ana Marin (ámen)!
Também ficamos a saber, pela acta, que o marechal Benite vai encenar Howard Barker. Será o épico de 6 horas de duração intitulado The Ecstatic Bible? Isto no Festival de Almada dava cá um sainete! Com o marechal Benite a dirigir metade, e a outra metade dirigida pelo seu marechal-de-campo que aproveitava para se tornar conhecido e sair do anonimato! No Festival de Adelaide (que é na Austrália) foi um êxito, com aborígenes a fazer de Cristo, Judas, Moisés, a cambada toda!
E mais: no espírito da velha Associação de Amizade Portugal-URSS, o marechal vai à Rússia encenar o D. Quixote, enquanto um tal Vladislav Pazi (este gajo não era do KGB?) vem a Almada encenar o Boris Goudonov. No intervalo, os dois marechais vão trocar números antigos da Vida Soviética e conversar sobre os malefícios do capitalismo imperialista e recordar o genial Brehznev. Isto faz-se com 1000€, no máximo dos máximos 1.500€ (3.000.000 de rublos ao câmbio actual).
Mas a grande e exultante novidade para 2005 é que o marechal Benite vai fazer «uma re-encenação de Othello», em co-produção com a Companhia Teatral de Faro. O IA não diz, mas a gente adivinha que isto é para a Capital Nacional da Cultura, que está a ser um êxito fenomenal (com toda a gente a apoiar e nem pensam noutra coisa!). A estreia será depois do Verão, que é para o actor principal poder apanhar o bronze indispensável para o papel do Moiro de Veneza (Veneza ou Tavira, tanto faz).
Quem se admira que a presidenta da Câmara apoie a Companhia de Almada com tudo e mais alguma coisa? Viva a presidenta! Viva o Benite! Viva a Ana Marin! Viva o IA, yá meu, isto é muita bom!!!!!
E VIVA PORTUGAL!!
Candidatura 020 (ou «Festival de Teatro de Almada»)
Brrrrr, que frio! Mas cá estamos nós de volta para vos aquecer a alma com mais uma acta da Ana Marin (ámen), do IA. Sim, porque IA significa «Instituto da Ana» e a Ana é uma mulher muito bem lançada: primeiro, foi lançada pelo Mário Barradas na Secretaria de Estado da Cultura (na época em que isto era tudo do PC) e, muitos anos depois, veio o Carrilho e lançou-a no estrelato!
Um dia destes a gente explica isto melhor. Hoje vamos voltar à margem Sul, depois do êxito que foi a nossa passagem pelo Vale de Barris. Em Almada está a Companhia de Almada «solidamente implantada», sob a direcção do Joaquim Benite, como a acta explica aos ignorantes. O Joaquim recebeu do IA um benite subsídio: 550.000€, que é como quem diz 110 mil pacotes em moeda arcaica.
E porquê tanta massa? Porque a Companhia de Almada não é só uma companhia, muito menos um batalhão, é uma tropa inteira! Nada menos de 20 pessoas mais 4 actores recrutados especialmente para 2005 «por razões de repertório», anuncia a acta. A tropa é do mais moderno que há e está organizada ao estilo do exército americano. Na direcção artística estão 2 marechais, o Benite, que é o Colin Powell, e um anónimo à paisana no difícil papel de Donald Rumsfeld. Na «gestão» trabalham 2 generais de 5 estrelas a tempo inteiro; a infantaria é composta por 5 actores permanentes, auxiliados pela artilharia de 4 coronéis do «sector técnico»; mas onde se vê a sofisticação do grande exército almadense é no grupo de operações especiais destinado a missões de alto risco. Anotem: no «sector de público» alistaram-se 2 majores «que analisam a relação de cada produção com um público alvo» (bombardeamento cirúrgico); o departamento de «promoção» conta com 2 tenentes especializados «para contacto com os meios de comunicação social» (CNN, New York Times, Al-Jazeera, etc.); na «distribuição» operam 1 capitão e 1 sargento vocacionados em exclusivo «para pesquisa de mercado» (guerra económica); e, por fim, 1 único furriel senta-se na secretaria e assegura o êxito das operações de transmissão, reabastecimento e logística.
Instruído pelo Ministério da Defesa (o Paulo Portas em pessoa!), o IA reconhece as dificuldades destas macro-organizações e diz que tudo isto «revela um modelo de gestão algo oneroso, embora eficiente». Cá está: a eficiência é o grande critério das máquinas bem oleadas que são os exércitos do século XXI! Paga-se um balúrdio aos magalas, mas anda tudo ali em sentido que é uma beleza! Um, dois, esquerdo, direito, marche!
Agora não digam que 110 mil contos é muito. Não é. O cacau é pouco, porque o marechal Benite tem a seu cargo a «organização do Festival Internacional de Teatro de Almada» que, diz a Ana, «vem crescendo em qualidade» e também em quantidade, a ponto de já ter tentáculos na margem Norte, invadindo o CCB, a Culturgest, o Trindade, o Taborda e o S. Luiz! (Só falta o D. Maria do Bairro Alto, que não tem detecção de incêndios nem acesso para deficientes, uma vergonha.) O marechal Benite pediu ao IA, só para o Festival, a módica quantia de 425.000€, que era a diferença entre «despesas previstas (866.000€)» e «receitas igualmente previstas (441.000€)». O IA do MC, na sua bondade, disse que sim: 425.000€ para o Festival e ainda levam uma gorjeta de 125.000€ para o resto. Satisfeitos?
Ora, o marechal Benite tem uma programação perfeita para fazer com 21 mil contos: Shakespeare, Bulgakov, Pushkin, Molière, Miguel Real, Jaime Rocha, tudo coisas simples. Uma das peças anunciadas é o Power do Nick Dear, sobre o Luís XIV, e faz-se na maior com 500€, mais coisa menos coisa. A Companhia de Almada é conhecida pelas suas encenações vanguardistas e a Ana de Áustria descalça e com uma túnica preta fica a matar! O Luís XIV com uma lanterna na tola, a fingir que é o Rei-Sol, e vai disto que é feira! A Irmã Lúcia vai delirar!
O IA também informa que o marechal Benite vai fazer pela primeira vez em Portugal qualquer coisa de «Carol Frechètte», o que é de facto uma revelação: Carol Frechètte é um famoso acupuncturista e trabalha numa célebre academia de medicina chinesa! O IA já patrocina terapias orientais na margem Sul?! Ou será que o IA queria dizer Carole Fréchette, a conhecida dramaturga canadiana autora das Quatro Mortes de Maria? Tudo é possível neste mundo esquisito da Ana Marin (ámen)!
Também ficamos a saber, pela acta, que o marechal Benite vai encenar Howard Barker. Será o épico de 6 horas de duração intitulado The Ecstatic Bible? Isto no Festival de Almada dava cá um sainete! Com o marechal Benite a dirigir metade, e a outra metade dirigida pelo seu marechal-de-campo que aproveitava para se tornar conhecido e sair do anonimato! No Festival de Adelaide (que é na Austrália) foi um êxito, com aborígenes a fazer de Cristo, Judas, Moisés, a cambada toda!
E mais: no espírito da velha Associação de Amizade Portugal-URSS, o marechal vai à Rússia encenar o D. Quixote, enquanto um tal Vladislav Pazi (este gajo não era do KGB?) vem a Almada encenar o Boris Goudonov. No intervalo, os dois marechais vão trocar números antigos da Vida Soviética e conversar sobre os malefícios do capitalismo imperialista e recordar o genial Brehznev. Isto faz-se com 1000€, no máximo dos máximos 1.500€ (3.000.000 de rublos ao câmbio actual).
Mas a grande e exultante novidade para 2005 é que o marechal Benite vai fazer «uma re-encenação de Othello», em co-produção com a Companhia Teatral de Faro. O IA não diz, mas a gente adivinha que isto é para a Capital Nacional da Cultura, que está a ser um êxito fenomenal (com toda a gente a apoiar e nem pensam noutra coisa!). A estreia será depois do Verão, que é para o actor principal poder apanhar o bronze indispensável para o papel do Moiro de Veneza (Veneza ou Tavira, tanto faz).
Quem se admira que a presidenta da Câmara apoie a Companhia de Almada com tudo e mais alguma coisa? Viva a presidenta! Viva o Benite! Viva a Ana Marin! Viva o IA, yá meu, isto é muita bom!!!!!
E VIVA PORTUGAL!!