«Ninguém se mexa! Mãos ao ar» (IV)

2005-01-27
Teatro

Nenhuma arte tem de falar para todos a não ser o teatro.
Grandes e pequenos, instruídos e analfabetos, sábios e ignorantes, no teatro todos são Um, e por conseguinte só o que interessa o Único pode ser agradável a todos.
A origem da palavra teatro refere-se à disposição em hemiciclo dos lugares dos espectadores, de maneira que de qualquer lado cada um possa seguir a cerimónia pública.
Por isso o teatro não pode desculpar-se com nenhuma espécie de ignorância, seja a que moleste os sábios, seja a que não ensine os ignorantes.
Não é apenas a arte dramática que pode ser considerada como teatro. As primeiras cerimónias públicas de teatro eram ofícios religiosos e só depois começou a fazer-se a diferença entre o templo sagrado e a comédia profana.
Estimando a origem desta palavra, ficamos sabendo que toda a arte ou qualquer outra linguagem que passa do particular para o geral, faz imediatamente teatro.
Que cada um tenha uma arte que é a maneira de apurar o seu próprio gosto, a ninguém compete julgá-la; mas quando destine ao público a sua arte, desde esse momento é o publico a servir-se e o artista quem serve.

Almada Negreiros
 
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