Henrik Ibsen [II]

2006-05-23
excerto do texto «Ibsen: um resumo», in Hedda Gabler - Programa 20, Companhia Teatral do Chiado

Em 1900, quando Ibsen tinha 72 anos e era, há já muito tempo, um dramaturgo famoso no mundo inteiro, um jovem irlandês, estudante de literatura, na altura com 22 anos, viu pela primeira vez um artigo seu publicado. Esse artigo era sobre Quando Acordamos Entre os Mortos (o “epílogo dramático” de Ibsen, publicado no ano anterior).
O jovem era James Joyce.
«A pergunta que devemos fazer é se algum homem conseguiu erguer um império tão firme sobre o mundo pensante dos tempos modernos,”pergunta Joyce, e responde: “Nem Rousseau, nem Emerson, nem Carlyle… O génio deste homem desafia-os a todos, sem excepção… E as peças. Todas excelentes na perícia dramatúrgica, na caracterização e supremamente interessantes. O longo rol do Teatro, clássico ou moderno, tem poucas peças melhores para mostrar».
Ibsen teve reconhecimento do artigo e pediu a William Archer que agradecesse a este jovem escritor desconhecido.
Em Março de 1901, Joyce respondeu ao agradecimento de Ibsen com uma longa carta, escrita numa espécie de norueguês, que aprendera sozinho para poder ler as peças de Ibsen no original. Mais tarde, Ludwig Wittgenstein, o filósofo, outro dos génios do Século XX, iria aprender norueguês pela mesma razão. Joyce escreve: «A sua decisão obstinada de arrancar o segredo da vida deu-me coragem… O seu trabalho na Terra está para terminar, você está perto do silêncio. Está a escurecer, para si… Mas eu estou certo de que, mais adiante, existe um esclarecimento mais sagrado e mais profundo. Como membro da nova geração por quem você falou eu saúdo-o; não “com humildade”, por eu estar na obscuridade e você estar no centro da luz; não “com tristeza”, por você ser velho e eu novo; não “com arrogância”; não “sentido”; mas com “alegria”, com “esperança” e com “amor”, saúdo-o!» [...]
 
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