«Sobre o lado esquerdo» (XXV)

2005-06-14
O AMOR

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável.

A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma.

Assim é amor: mortral e navegável.

Eugénio de Andrade
 
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