Oh Que Ricos Subsídios! (VII)

2005-02-12
A CTC faz em cacos as actas do IA do MC

Canidatura (sic) 007 (a Casa transdisciplinar ― e cara!― dos Dias da Água)

Olá, viciados da Pancada de Molière! Já digeriram a última acta? Têm fome para mais uma? Pois cá vai!
Hoje vamos reincidir. Por outras palavras: a Irmã Lúcia volta a atacar! Lembram-se da candidatura 039, sistema «Sensurround», 100.000€, Lúcia Sigalho, descalços no Metro? É essa. Mas a Ordem das Carmelitas Descalças e a sua Madre Superiora não se ficaram por aí. Atacaram em duas frentes, que é como quem diz foram sacar bago ao Estado por dois lados. Como?
É que há dois concursos, gente. A Irmã Lúcia (Sigalho) cravou dinheiro pelo lado dos subsídios ao Teatro e pelo lado dos subsídios aos projectos «Pluri/Transdisciplinares» (o palavrão é do IA, não é nosso) ― cravou e levou! 100.000€ em cada saco, juntam-se os sacos e dá 200.000€, a bela maquia de 40 mil contos na moeda caduca. E perguntam vocês: quais são as transdisciplinas a que se dedica a Casa dos Dias da Água para merecer este bónus do subsídio em duplicado?
Boa pergunta. O IA, antes de mais, sensibilizou-se com a Irmã Lúcia porque acha que a Casa dos Dias da Água (mas que raio de nome...) é nada mais nada menos do que um «espaço de eleição». Mas, claro, os espaços de eleição não se arranjam aí por tuta e meia. É o que reconhece o IA: o grande problema é o «custo muito elevado do aluguer» (arrendamento, bolas!) por causa do qual todos nós sabemos o que tem sido «a vida atribulada da Sensurround» (sic). Já voltaremos a falar disso, vamos lá primeiro responder à vossa pergunta.
Segundo o IA, o «espaço de eleição» serve «no essencial» para o «acolhimento de projectos criativos de outras companhias, a maioria dos quais em regime de residência, exposições, debates e seminários». Ou seja, a Casa da Irmã Lúcia é, no essencial, um hotel, ou melhor, uma residencial onde as «outras companhias» vêm passar temporadas, não se sabe se em regime de meia pensão ou pensão completa. Em todo o caso, fazem por lá coisas do género de «exposições, debates e seminários» e com um sucesso de tal ordem que até se faz bicha para ir às «exposições, debates e seminários» que a Irmã Lúcia acolhe com muita hospitalidade. Quem nunca foi a um seminário, a uma exposição ou, pelo menos, a um debate nos Dias da Água não sabe o que é a vida!
E daqui para a frente ainda vai ser pior. Porquê? Porque a Casa dos Dias da Água vai ter um director artístico, o Paulo Reis, e o grande Paulo Reis não é para brincadeiras: fez logo um plano para 4 anos que é de pôr os olhos em bico! O IA cita o plano entre aspas, porque até a Ana Marin (ámen) esbugalhou a pestana quando leu que o Paulo Reis quer integrar «todas as “vertentes contemporâneas de arte, cultura, moda e entretenimento, desenvolvendo um extenso projecto multidisciplinar e multimédia para a cidade de Lisboa”» e não faz a coisa por menos! Cuida-te CCB! Põe-te a pau, Culturgest! Qual Gulbenkian, qual carapuça!
Só o que a Irmã Lúcia sabe de entretenimento e de moda e de cultura já basta para adivinhar que os Dias da Água vão ser a nova movida da «cidade de Lisboa»! Madrid vai cair em peso na residencial da Irmã Lúcia, não tenham dúvida. Isto, como diz a acta, não é uma programação, não é um projecto, é «uma programação aditiva, que soma diferentes projectos», não é uma soma, não é uma adição, é uma soma de adições e uma adição de somas, uma conta calada com parcelas que nunca mais acabam e um resultado que é de pôr a cabeça à roda! Ele é Lisboa Photo, ele é Mostra Lisboa de Cinema Português (um êxito de pancada à porta!), ele é Documenta Design, ele é Semana de Moda de Lisboa (para atrair o Santana Lopes, está bem visto!), ele é o Carmo e a Trindade na albergaria da Irmã Lúcia! Isto vai ser um terramoto multimédia, um tsunami multidisciplinar, uma tempestade de entretenimento como só a Irmã Lúcia e o mirífico Paulo Reis são capazes de conceber!
Não venham dizer que vocês também não davam 100.000€ para esta autêntica revolução cultural que até envergonha o Mao Tsé Tung! Bem, para dizer a verdade, a Irmã Lúcia pediu um bocadito mais, não muito: 224.074€ (reparem no detalhe dos 74€, para dar credibilidade às contas...), o dobro do que lhe deu a Santa Ana (ámen), mais coisa menos coisa. E porque é que a Santa Ana (ámen) não lhe deu o granel todo? Porque lá no fundo do seu micro-cérebro ficou, como ela confessa na acta, com «algumas dúvidas sobre a viabilização do projecto», ou seja, a pensar que aquilo é muita areia para a camioneta da Irmã Lúcia e do Paulo Reis. Ora, que contas é que ela fez?
Não custa nada adivinhar. Tirou a Lisboa Photo, baldou-se para a Mostra de Cinema Português, atirou às malvas a Documenta Design, mandou a Moda e o Santana Lopes dar uma volta ao bilhar grande, e o que é que sobrava depois destas subtracções insignificantes? A renda! A Irmã Lúcia, portanto, recebeu o bago para pagar a renda (quem será o senhorio dos Dias da Água?) e assim já a Sensurround não tem uma vida tão atribulada! O Ministério da Cultura paga-lhe a renda e assim a Irmã Lúcia pode manter a residencial a funcionar, com águas correntes, quentes e frias, para alegria da clientela! O senhorio da Irmã Lúcia, que estava a ver o caso mal parado, pode ficar sossegadinho: no dia 8, todos os meses, como manda a lei, entra-lhe a massa na conta e é só passar o recibo. Nada mau, nos tempos que correm!
É verdade que «a vida atribulada da Sensurround» dava um belo título para um filme do James Bond, mas o IA e o MC preferem que as pessoas (desde que não sejam da CTC, claro!) levem uma vidinha tranquila, com dinheiro no banco e as rendas em dia. Assim é que é bonito.
Pensem nisto, divirtam-se com a campanha eleitoral (afinal, é boato ou não é boato?), e venham ver A Casa da Boneca se gostam de teatro! Ai a Vanessa vai tão bem! Beijinhos e abraços!
 
posted by CTC at 19:25, |