Oh Que Ricos Subsídios! (VI)
2005-02-07
A CTC continua a esmiolar as actas do IA do MC
Candidatura 043 (ou uma excêntrica «Garagem» no Poço do Bispo)
Candidatura 043 (ou uma excêntrica «Garagem» no Poço do Bispo)
Caros amigos, lamentamos muito este interregno durante o qual suspendemos os comentários às actas do IA do MC. A verdade é que ainda não tínhamos lido a acta da Garagem e quando fomos ler ficámos em estado de coma e só agora é que nos recompusemos... Já vão perceber porquê.
Nós aqui só costumamos ir à Garagem para pôr o carro na revisão, de 6 em 6 meses, mas desta vez fomos nós que precisámos de revisão... Vamos lá então ao serviço, que há muita clientela à espera.
Sabem o que é a Garagem? Não sabem. O IA (Instituto da Ana) explica: a Garagem é «uma cooperativa de teatro» instalada num «lugar excêntrico na cidade». Qual? Ora, o Poço do Bispo, claro! Querem sítio mais excêntrico que o Poço do Bispo? Só se for o Jardim da Estrela (depois da meia-noite)! Quem é o patrão da excêntrica Garagem, sabem? Não sabem. O IA explica: a Garagem «cresceu em torno do seu fundador ― o dramaturgo, encenador e professor Carlos J. Pessoa ― que vem assegurando a direcção da quase totalidade das produções da companhia em torno dos seus universos de escrita muito pessoais». Portanto, é tudo em torno, e sem torno, de facto, não há Garagem que se aguente. Torno, chave de fendas, martelo, berbequim, macaco, não falta nada na Garagem. O que falta é perceber como é que uma cooperativa anda toda em torno dum chefe: então as cooperativas não é toda a gente a mandar ao mesmo tempo?! Oh seus nabos, então não percebem que isto é uma cooperativa excêntrica? Uma cooperativa fora do comum, uma cooperativa descabelada, original? Ora, a cooperativa coopera toda, mas quem coopera mais é o Carlos Pessoa, que é, por assim dizer, a mula da cooperativa!
E que serviços é que a Garagem oferece a quem lá vai? O IA explica: têm no lombo nada mais nada menos do que «15 anos de trabalho continuado de índole algo experimental». Portanto, para a Ana Marin (ámen), o pessoal da Garagem é descentrado e faz um trabalho, reparem bem, «algo experimental». Não é experimental, é «algo experimental», o que é muito diferente de ser completamente experimental ou nada experimental. É algo, não é tudo, ou seja, é vagamente experimental, é mais ou menos experimental, é experimental e tal e coiso mas, no entanto, não é mesmo mesmo experimental, oh não, isso nunca! Em suma: a Garagem é algo e não se fala mais nisso.
O Carlos Pessoa é o chefe do estaminé, escreve peças, encena-as, e ainda dá aulas por cima. As peças, para o IA, não valem um caracol, porque, como se lembram da acta do D. Maria do Bairro Alto, Portugal (Poço do Bispo incluído) tem uma «modesta dramaturgia que seguramente nenhum outro país poderá ou quererá fazer». Está bem, mas faz a Garagem. E a Garagem não é uma fábrica, nem está no negócio da exportação. Vai daí, o IA comoveu-se com estes carolas e deu-lhes 240.000€ (moeda antiga: 48 mil notas bem contadas!).
Ora bem, 48 mil dele, mais os êxitos de bilheteira no Poço do Bispo, isto dá um bagulho que explica perfeitamente porque é que na Garagem nunca há salários em atraso e os actores são pagos a peso de ouro! Os lucros são todos divididos pelos associados em pé de igualdade e não há cá intermediários! No Poço do Bispo, a exploração acabou há muito tempo!!
Quem fica a perder, claro, é o Carlos J. Pessoa. Isto de cooperativas já se sabe como é: há sempre alguém que alanca com o trabalho maior e os outros penduram-se. O IA diz que o Pessoa (não confundir com o Fernando) confere à Garagem «um modo singular de pensar e executar o teatro», mas, coitado, aquilo cai-lhe tudo em cima e «a circunstância de uma centralidade exacerbada pode, todavia, em alguns casos tender para um certo ensimesmamento e maneirismo autocitacional». É só todavia e em alguns casos, mas isto do «ensimesmamento» e do «maneirismo» é muito chato, um gajo tem de tomar comprimidos e ir a sessões de grupo no Júlio de Matos para se curar, senão dá em autista profundo e começa a dar com a cabeça nas paredes da Garagem, uma tristeza. A Santa Ana Marin (ámen), compreensiva e maternal, não quer que o Pessoa se ponha para ali a autocitar-se e a meter-se para dentro e disse-lhe: toma lá 240.000€ e trata-te, Carlitos, não te ponhas para aí com «maneirismos» e a cismar, que a vida são três dias, dois de festa e um de orgias. Está bem visto!
Também não admira que o Carlos se vá abaixo. Para 2005 e seguintes a Garagem anunciou um projecto que é barra pesada. Ora vejam: além do «teatro de autor» que é só do Pessoa (um gajo com um nome destes é logo autor), temos «teatro documental (abordando a imigração ou a eutanásia)», o Júlio César do Shakespeare e a Morte de Danton do Büchner! Valha-nos Deus! Isto dava para deprimir o Poço do Bispo, o Beato, Alfama e a Mouraria! Imigração ou eutanásia, venha o Diabo e escolha! Cabo-verdianos e ucranianos nas obras, brasileiros a servir à mesa, tudo gente ilegal, sem papéis, com a família na terra, isto ainda vai dar facada e problemas com o SEF, o Carlitos nem sabe no que se meteu! E eutanásia, gente a pedir para morrer depressa, dá-me um tiro, Carlitos, acaba com a minha desgraça!, já não aguento mais!, uma angústia de fazer chorar as pedras da calçada!... E depois o César a morrer às mãos do Brutus, aquelas sangrias romanas que nunca mais acabam, tudo a apunhalar-se uns aos outros, mais o Danton com a pinha cortada na guilhotina, ainda por cima em alemão! Não se aguenta, é sofrimento a mais, e nem uma comediazita para aliviar, um Gil Vicente ao menos! Qual é a ideia do Carlos? Ajudar o «Lx Porta a Porta» no Poço do Bispo?! Isto já não é teatro, é auto-flagelação!
E ainda por cima, a Garagem também vai fazer teatro infantil, imaginem! Pobres criancinhas, entregues à auto-citação... Ao menos que dêem aos miúdos uns chupas, ou uns smarties, ou balões, e que os deixem trazer a trotineta para a Garagem, para substituir a bateria ou mudar as rodas. Mas há mais, a Garagem também se vai atirar a «encontros bienais» sobre o «Teatro do mundo», que o IA não faz ideia nenhuma o que seja, mas calcula que é uma versão da famosa «world music» em teatro, com espectáculos de folclore búlgaro, rituais do Zimbabwe, danças da chuva dos Sioux, festas ciganas da Roménia, circo chinês e tudo o que há no mundo e arredores!
Estes garagistas do Poço do Bispo são uns megalómanos! E ainda por cima, como diz o IA, «atestam uma vontade de abrir para o exterior o que tem sido até hoje um trabalho ― muito próprio ― de auto-reflexão extremada». A Garagem agora vai abrir ao exterior, portas abertas para entrar o ar, a ver se acabam com esta coisa maníaca da «auto-reflexão extremada» que só faz mal à saúde. E já se nota a diferença, querem ver? «O dossiê que apresentam contempla uma programação solidamente definida e com uma lógica sequencial e uma coerência notáveis»! Conseguiram escrever um dossier certinho, grandes progressos! Podem ser doidos, mas têm lógica: como dizia o Polónio, é loucura, mas é uma loucura com método!
Já o IA não tem método nenhum. Diz que a Garagem «ocupa (por aluguer)» o armazém do Poço do Bispo. Não sabem que os armazéns se arrendam, não se alugam? Uma baralhada. Qualquer dia, ainda dizem que a Garagem arrendou um Volkswagen Golf para ir para o exterior auto-reflectir! Procura-se jurista caridoso que explique ao IA a diferença entre bens móveis e imóveis (boa remuneração, subsídio, contactar Ministério da Cultura).
Mas a isto, claro, já nos habituámos. A Garagem leva 240.000€ e o guito é que é o principal, o que não quer dizer que o IA saiba para que é que o bago vai servir. Lá vem a confusão do costume: «Todavia, na referência à previsão de despesas e mesmo na apresentação geral do quadro surge um erro de concepção gráfica no alinhamento das produções reportáveis a cada ano, de que resulta uma leitura algo equívoca». Está tudo torto, o torno avariou-se, com certeza, mas já se sabe: é pessoal excêntrico, artistas, gente desorientada!
Para o júri do IA também não é preciso mais. E lá assinaram todos. A Garagem confirmou o que já se sabia: este júri não joga mesmo com o baralho todo! Baralho, qual baralho?, pergunta a Ana Marin (ámen!).Amigos, divirtam-se com a campanha eleitoral, se puderem! Saudações teatrais e aguardem pelas próximas e escaldantes revelações! E já sabem: vão para fora cá dentro, façam turismo no Poço do Bispo!
Nós aqui só costumamos ir à Garagem para pôr o carro na revisão, de 6 em 6 meses, mas desta vez fomos nós que precisámos de revisão... Vamos lá então ao serviço, que há muita clientela à espera.
Sabem o que é a Garagem? Não sabem. O IA (Instituto da Ana) explica: a Garagem é «uma cooperativa de teatro» instalada num «lugar excêntrico na cidade». Qual? Ora, o Poço do Bispo, claro! Querem sítio mais excêntrico que o Poço do Bispo? Só se for o Jardim da Estrela (depois da meia-noite)! Quem é o patrão da excêntrica Garagem, sabem? Não sabem. O IA explica: a Garagem «cresceu em torno do seu fundador ― o dramaturgo, encenador e professor Carlos J. Pessoa ― que vem assegurando a direcção da quase totalidade das produções da companhia em torno dos seus universos de escrita muito pessoais». Portanto, é tudo em torno, e sem torno, de facto, não há Garagem que se aguente. Torno, chave de fendas, martelo, berbequim, macaco, não falta nada na Garagem. O que falta é perceber como é que uma cooperativa anda toda em torno dum chefe: então as cooperativas não é toda a gente a mandar ao mesmo tempo?! Oh seus nabos, então não percebem que isto é uma cooperativa excêntrica? Uma cooperativa fora do comum, uma cooperativa descabelada, original? Ora, a cooperativa coopera toda, mas quem coopera mais é o Carlos Pessoa, que é, por assim dizer, a mula da cooperativa!
E que serviços é que a Garagem oferece a quem lá vai? O IA explica: têm no lombo nada mais nada menos do que «15 anos de trabalho continuado de índole algo experimental». Portanto, para a Ana Marin (ámen), o pessoal da Garagem é descentrado e faz um trabalho, reparem bem, «algo experimental». Não é experimental, é «algo experimental», o que é muito diferente de ser completamente experimental ou nada experimental. É algo, não é tudo, ou seja, é vagamente experimental, é mais ou menos experimental, é experimental e tal e coiso mas, no entanto, não é mesmo mesmo experimental, oh não, isso nunca! Em suma: a Garagem é algo e não se fala mais nisso.
O Carlos Pessoa é o chefe do estaminé, escreve peças, encena-as, e ainda dá aulas por cima. As peças, para o IA, não valem um caracol, porque, como se lembram da acta do D. Maria do Bairro Alto, Portugal (Poço do Bispo incluído) tem uma «modesta dramaturgia que seguramente nenhum outro país poderá ou quererá fazer». Está bem, mas faz a Garagem. E a Garagem não é uma fábrica, nem está no negócio da exportação. Vai daí, o IA comoveu-se com estes carolas e deu-lhes 240.000€ (moeda antiga: 48 mil notas bem contadas!).
Ora bem, 48 mil dele, mais os êxitos de bilheteira no Poço do Bispo, isto dá um bagulho que explica perfeitamente porque é que na Garagem nunca há salários em atraso e os actores são pagos a peso de ouro! Os lucros são todos divididos pelos associados em pé de igualdade e não há cá intermediários! No Poço do Bispo, a exploração acabou há muito tempo!!
Quem fica a perder, claro, é o Carlos J. Pessoa. Isto de cooperativas já se sabe como é: há sempre alguém que alanca com o trabalho maior e os outros penduram-se. O IA diz que o Pessoa (não confundir com o Fernando) confere à Garagem «um modo singular de pensar e executar o teatro», mas, coitado, aquilo cai-lhe tudo em cima e «a circunstância de uma centralidade exacerbada pode, todavia, em alguns casos tender para um certo ensimesmamento e maneirismo autocitacional». É só todavia e em alguns casos, mas isto do «ensimesmamento» e do «maneirismo» é muito chato, um gajo tem de tomar comprimidos e ir a sessões de grupo no Júlio de Matos para se curar, senão dá em autista profundo e começa a dar com a cabeça nas paredes da Garagem, uma tristeza. A Santa Ana Marin (ámen), compreensiva e maternal, não quer que o Pessoa se ponha para ali a autocitar-se e a meter-se para dentro e disse-lhe: toma lá 240.000€ e trata-te, Carlitos, não te ponhas para aí com «maneirismos» e a cismar, que a vida são três dias, dois de festa e um de orgias. Está bem visto!
Também não admira que o Carlos se vá abaixo. Para 2005 e seguintes a Garagem anunciou um projecto que é barra pesada. Ora vejam: além do «teatro de autor» que é só do Pessoa (um gajo com um nome destes é logo autor), temos «teatro documental (abordando a imigração ou a eutanásia)», o Júlio César do Shakespeare e a Morte de Danton do Büchner! Valha-nos Deus! Isto dava para deprimir o Poço do Bispo, o Beato, Alfama e a Mouraria! Imigração ou eutanásia, venha o Diabo e escolha! Cabo-verdianos e ucranianos nas obras, brasileiros a servir à mesa, tudo gente ilegal, sem papéis, com a família na terra, isto ainda vai dar facada e problemas com o SEF, o Carlitos nem sabe no que se meteu! E eutanásia, gente a pedir para morrer depressa, dá-me um tiro, Carlitos, acaba com a minha desgraça!, já não aguento mais!, uma angústia de fazer chorar as pedras da calçada!... E depois o César a morrer às mãos do Brutus, aquelas sangrias romanas que nunca mais acabam, tudo a apunhalar-se uns aos outros, mais o Danton com a pinha cortada na guilhotina, ainda por cima em alemão! Não se aguenta, é sofrimento a mais, e nem uma comediazita para aliviar, um Gil Vicente ao menos! Qual é a ideia do Carlos? Ajudar o «Lx Porta a Porta» no Poço do Bispo?! Isto já não é teatro, é auto-flagelação!
E ainda por cima, a Garagem também vai fazer teatro infantil, imaginem! Pobres criancinhas, entregues à auto-citação... Ao menos que dêem aos miúdos uns chupas, ou uns smarties, ou balões, e que os deixem trazer a trotineta para a Garagem, para substituir a bateria ou mudar as rodas. Mas há mais, a Garagem também se vai atirar a «encontros bienais» sobre o «Teatro do mundo», que o IA não faz ideia nenhuma o que seja, mas calcula que é uma versão da famosa «world music» em teatro, com espectáculos de folclore búlgaro, rituais do Zimbabwe, danças da chuva dos Sioux, festas ciganas da Roménia, circo chinês e tudo o que há no mundo e arredores!
Estes garagistas do Poço do Bispo são uns megalómanos! E ainda por cima, como diz o IA, «atestam uma vontade de abrir para o exterior o que tem sido até hoje um trabalho ― muito próprio ― de auto-reflexão extremada». A Garagem agora vai abrir ao exterior, portas abertas para entrar o ar, a ver se acabam com esta coisa maníaca da «auto-reflexão extremada» que só faz mal à saúde. E já se nota a diferença, querem ver? «O dossiê que apresentam contempla uma programação solidamente definida e com uma lógica sequencial e uma coerência notáveis»! Conseguiram escrever um dossier certinho, grandes progressos! Podem ser doidos, mas têm lógica: como dizia o Polónio, é loucura, mas é uma loucura com método!
Já o IA não tem método nenhum. Diz que a Garagem «ocupa (por aluguer)» o armazém do Poço do Bispo. Não sabem que os armazéns se arrendam, não se alugam? Uma baralhada. Qualquer dia, ainda dizem que a Garagem arrendou um Volkswagen Golf para ir para o exterior auto-reflectir! Procura-se jurista caridoso que explique ao IA a diferença entre bens móveis e imóveis (boa remuneração, subsídio, contactar Ministério da Cultura).
Mas a isto, claro, já nos habituámos. A Garagem leva 240.000€ e o guito é que é o principal, o que não quer dizer que o IA saiba para que é que o bago vai servir. Lá vem a confusão do costume: «Todavia, na referência à previsão de despesas e mesmo na apresentação geral do quadro surge um erro de concepção gráfica no alinhamento das produções reportáveis a cada ano, de que resulta uma leitura algo equívoca». Está tudo torto, o torno avariou-se, com certeza, mas já se sabe: é pessoal excêntrico, artistas, gente desorientada!
Para o júri do IA também não é preciso mais. E lá assinaram todos. A Garagem confirmou o que já se sabia: este júri não joga mesmo com o baralho todo! Baralho, qual baralho?, pergunta a Ana Marin (ámen!).Amigos, divirtam-se com a campanha eleitoral, se puderem! Saudações teatrais e aguardem pelas próximas e escaldantes revelações! E já sabem: vão para fora cá dentro, façam turismo no Poço do Bispo!