Comédia! Comédia!! Comédia!!!

2007-01-28
Dez anos a fazer rir! 1.021 representações! 155.237 espectadores e 118 digressões!
Quando em 1996 decidi dirigir este espectáculo, tinha desaparecido um dos maiores actores portugueses e uma das personalidades mais marcantes do teatro português do pós-25 de Abril: Mário Viegas. Um mestre na arte da comédia!
O Mário Viegas foi, não tenhamos medo das palavras, um grande cómico e não só… Era justo mostrar o que tinha aprendido com ele, dar-lhe continuidade e, por isso, resolvi dirigir este espectáculo: As Obras Completas de William Shakespeare em 97 Minutos.

A comédia sempre foi o género de teatro mais amado pelo grande público. A comédia é o retrato mais fiel da sensibilidade popular.

Muitas vezes sou abordado na rua e perguntam-me:
- O que é que estão a fazer agora?
- Estamos a ensaiar um novo espectáculo!
- E é para rir?
O povo (esta palavra tão fora de moda) sempre gostou de censurar os erros e os vícios do seu tempo, com críticas mordazes, jocosas, por isso o Mário Viegas, seguindo esta grande tradição teatral, fundou a CTC e escolheu para padroeiros desta companhia o Bucha e o Estica, os dois cómicos mais populares de sempre.

E como rir é o melhor remédio, Shakespeare escreveu 16 comédias. Nada melhor que o riso para provocar o escárnio, a simpatia, a alegria, o júbilo e a cumplicidade do público…! Mesmo nas suas grandes tragédias, Shakespeare não resistiu a colocar cenas ou personagens de comédia nos primeiros planos para provocar o riso… era preciso rir com um olho para depois chorar com o outro!

Muitos bem pensantes em Portugal tentaram fazer-nos crer que a comédia é um género menor, é “ir atrás do público”… chegando mesmo a afirmar que ter público não é importante. Para eles vai a minha grande gargalhada!

Muitos dirão que estou a falar de “lugares-comuns”, mas o que não é comum é que em plena época natalícia, por excelência festiva, a cidade de Lisboa, que se diz europeia, tenha apenas 3 comédias em cartaz (duas delas aqui no Teatro Mário Viegas). Meus senhores, isto não é normal!
Com esta paródia ao génio de Shakespeare a CTC pôde levar à cena dramaturgos como: Henrik Ibsen, August Strindberg, Samuel Beckett, John Osborne, Israel Horowitz, Peter Shaffer, Bill Manhoff, John Godber, Charles Busch, Almada Negreiros.

As Obras Completas de William Sakespeare em 97 Minutos têm sido o retrato fiel do meu país: muito riso e pouco dinheiro! Dez anos a rir muito para não chorar.

Nos últimos anos o Teatro Mário Viegas, em pleno coração da cidade, tem tido o apoio do MC de 80 euros por dia enquanto outros espaços teatrais chegam a ter 1700 euros diários. Muitos dirão que a arte não é justa, mas cruel. A esses respondo com a mesma crueldade: os pobres não têm tempo para meter lá os pés! Ou se quiserem: os pobres não entram na casa dos ricos! Melhor ainda: os ricos não fazem parte do grande Teatro, o Teatro que é eleito por aqueles que estão mais próximos do céu! Alguns pensarão que estou a ser demagogo e vaidoso, mas não… Só quero um país mais justo!

[Discurso de Juvenal Garcês, director artístico da Companhia Teatral do Chiado e encenador do espectáculo As Obras Completas de William Shakeaperea em 97 minutos leu no dia do 10º aniversário desde estectáculo - 28 de Novembro de 2006]
 
posted by CTC at 19:07, |